Filosofia para crianças e filosofia com crianças

serie

Voici une traduction en portugais, réalisée par Maria Taboza, de l’article écrit récemment portant sur les possibles distinctions à faire entre la philosophie POUR enfants et la philosophie AVEC les enfants. Cet article semble avoir suscité un certain intérêt auprès de ceux et celles, notamment, qui travaillent au développement de la pratique du dialogue philosophique avec les enfants. Je tiens à remercier Angela Martins d’avoir eu la généreuse idée de traduire le tout.

serie

Maria Taboza

Maria Taboza, étudiante de doctorat en Littérature et arts de la scène et de l’écran de l’Université Laval. Auxiliaire d’enseignement en portugais de l’École de langues de l’Université Laval. Consultante et réviseure en langue portugaise. Coordonnatrice d’édition et révision des publications. Traductrice.      

ctaboza.revisao@gmail.com

Acabei de voltar de uma estada na República Tcheca, um país onde foi estabelecida a filosofia para crianças há muitos anos. Várias atividades estavam esperando por mim em minha estada, incluindo uma conferência sobre alguns pressupostos da filosofia para crianças. Para concluir a conferência, eu sugeri o estudo da distinção, já discutida por Matthew Lipman, entre filosofia para crianças e filosofia com crianças.

Para Lipman, “Filosofia com crianças tem como objetivo transformar as crianças em jovens filósofos. Filosofia para crianças tem o objetivo de ajudar as crianças a usar a filosofia para melhorar o aprendizado de todas as disciplinas do currículo”. Esta citação suscitou uma viva discussão entre várias pessoas que assistiram à conferência. Aos olhos de alguns, a citação representava uma distinção real, para outros foi recebida como puro jogo de palavras de pouco valor, exceto para marcar a distância que alguns gostam de manter com relação ao programa de Lipman.

Para mim, é importante considerar se existe uma diferença, se é o caso de fazer uma distinção, entre filosofia para crianças e filosofia com crianças. E, ao refletir, encontrei uma resposta que por hora me satisfaz. É esta que apresentei na conferência da República Tcheca e aqui relembro os pontos principais da minha fala e da discussão que se seguiu.

Quando fazemos um inventário de todas as atividades concernentes à prática da filosofia com crianças que estão ocorrendo atualmente no Planeta (mais de 60 países estão envolvidos), é evidente que essa prática tem muitas faces. Para alguns, fazer filosofia com crianças consiste em usar um material (jogos, vídeo, artigo de jornal, conto, fábula, literatura infantil, questão ou tema proposto por uma criança, etc.) e, a partir desses estímulos, levantar questionamentos com as crianças a respeito de uma temática, considerando a longa história da filosofia, a fim de incentivar as crianças a se tornarem, gradualmente, pessoas capazes de fazer filosofia. (1)

Para outros, inclusive eu, é contar com um material, escrito por Lipman e Sharp (e todos aqueles e aquelas que eles inspiraram direta ou indiretamente: mais de 20 livros e muitos guias, totalizando aproximadamente 10 mil páginas), cuja função principal é exemplificar atos cognitivos, sociais, afetivos que possam estar presentes em uma comunidade de investigação filosófica e, a partir disso, convidar os jovens a se questionarem sobre aquilo que os interessa nesse material e, em seguida, propulsá-los em um debate sobre um assunto (ou muitos) que lhes tenha despertado o interesse.

Há realmente uma diferença radical entre estes dois aspectos, ou existe uma diferença de grau entre essas duas maneiras de abordar a prática da filosofia com crianças? Em minha opinião, trata-se de uma diferença radical porque, como veremos, os objetivos a alcançar são diferentes. Mas isso não significa que uma abordagem é melhor do que outra. No primeiro caso – filosofia com crianças –, o objetivo é garantir, na medida do possível, que os jovens se tornem pequenos filósofos: eles fazem perguntas e pensam a respeito de questões que os filósofos da história dessa disciplina têm discutido há mais de 2.500 anos. No segundo caso – filosofia para crianças –, o objetivo é usar a filosofia como ferramenta para permitir aos jovens pensar melhor, aprender melhor em todas as disciplinas ensinadas na escola. Há obviamente alguma sobreposição entre estas duas abordagens, mas as diferenças me parecem tão significativas que seria equivocado acreditar que as duas visões são realmente muito similares.

Certamente, na filosofia para crianças, estas se envolvem em atos normalmente associados com aqueles e aquelas que fazem filosofia e, nesse sentido, se engajam no ato de filosofar. Mas o objetivo não é que elas se tornem filósofas. O objetivo é usar esta atividade, com especial destaque para as ações que a compõem, para que um pensamento de qualidade superior se desenvolva e, assim, permitir que as crianças pensem melhor em todas as disciplinas ensinadas na escola. Em outras palavras, a filosofia para crianças irá levá-las a filosofar, mas, com essa prática, o objetivo almejado não é que elas se tornem filósofas, mas que aprendam, graça à ênfase em instrumentos cognitivos utilizados na filosofia, a pensar melhor, por e para si mesmas. (2)

Alguns argumentarão que podemos atingir o objetivo da segunda abordagem – filosofia para crianças – usando a primeira maneira de fazer – filosofia com crianças. Eu duvido disso, a menos que esta seja sistematizada na utilização de um material destinado a engajar as crianças a pensar filosoficamente e refletir sobre seu próprio pensamento. Minha avaliação do material utilizado por aqueles e aquelas que fazem filosofia com crianças (admito, no entanto, não conhecer todos os materiais utilizados na filosofia com crianças) levou-me, por agora, à conclusão de que este material, rico em questões ditas filosóficas, confere muito pouca atenção à formação do pensamento e de sua utilização adequada em todas as disciplinas ensinadas na escola. Sem falar do fato de que algumas ferramentas – incluindo uma certa literatura infantil que tem a pretensão de permitir a prática da filosofia com crianças – utilizadas neste contexto tendem, às vezes, a conduzir as crianças para as respostas que elas deveriam ter ao fim do processo: a moral dessa história é que o bem é isso, o mal é aquilo, vale a pena viver a vida, a empatia é melhor do que… o humanismo é o caminho a seguir, etc. Não é de hoje que temos a tendência, mesmo em filosofia, especialmente quando se trata de ética, de querer transmitir a resposta certa… Estranhamente, ainda que objetivo seja levar as pessoas a pensar por e para si mesmas (ou seja, alguns diriam, um dos propósitos da filosofia), temos a pretensão de saber por elas aquilo que elas devem, em última instância, pensar ou acreditar. No Quebec, resumimos tudo dizendo: quando as botas não seguem a boca, há um grave problema que pode levar à doutrinação!

Quando não incluímos a prática da filosofia com crianças como parte de um programa logicamente estruturada para a formação de um pensamento de qualidade superior, nós certamente podemos assistir a discussões interessantes entre os jovens, tão interessantes que chegaremos a esquecer a dimensão metacognitiva que caracteriza uma comunidade de investigação filosófica, visando ao desenvolvimento de um pensamento multidimensional (abordagem de Lipman). Então, nos concentraremos no conteúdo proposto, considerando certas razões, exemplos, contraexemplos, etc., mas raramente como parte de um programa estruturado de formação do pensamento, concentrando-se em uma análise cuidadosa destes.

Ecoando as palavras de Lipman, em filosofia com crianças, fazemos filosofia de modo que os jovens se tornem pequenos filósofos. Em minha avaliação dessa abordagem, considero que não fazemos filosofia para crianças, ou seja, não incluímos explicitamente sua abordagem em um programa de formação do pensamento que, como qualquer programa estruturado e sistemático, implica a prática organizada de uma série de elementos cognitivos e afetivos que, antes de outros, devem ser tratados de forma metódica e sequencial.

Isto é o que acontece quando se utiliza a filosofia para crianças, também conhecida como abordagem de Lipman. Praticada de maneira lúcida, e com uma frequência que não deve ser menor do que a de outras matérias ensinadas na escola, a filosofia para crianças permitirá que essas, ainda que capazes de fazê-lo bem desde o início de sua prática, internalizem, por meio da repetição e do exame cuidadoso de seu pensamento: a arte de distinguir, graças ao romance Elfie e ao guia pedagógico que o acompanha; a arte de conceituar, graças ao romance Kio e Augustine e a seu guia de acompanhamento; em seguida, em torno dos 9 anos, a arte do raciocínio analógico, graças ao romance Pixie e a seu guia de acompanhamento; e finalmente, em torno dos 10-12 anos, a arte de trabalhar notadamente a conversão, o raciocínio categórico e hipotético, graças ao romance A descoberta de Harry e a seu guia de acompanhamento, tudo isso dando-lhes a oportunidade de descobrir as leis que regem o conjunto dos elementos praticados desde o início do processo começado no jardim de infância.

Dessa forma, as crianças serão não só bem preparadas para lidar com questões éticas levantadas pelo romance Lisa (início do secundário), mas também poderão melhor tratar as questões estéticas apresentadas no romance Suki (metade do secundário) e aquelas, sociais e políticas, incluídas no romance Mark (fim do secundário). Certamente, as crianças já abordam questões desta natureza desde o primário, mas estas são tratadas de forma a, ao dar oportunidade para as crianças de pensar sobre tais dimensões de sua experiência, oferecer-lhes oportunidade de praticar especialmente o ato de pensar de maior qualidade, que é uma combinação entre pensamento crítico, criativo e atento. Assim, elas poderão pensar melhor em todas as disciplinas ensinadas na escola, sendo constantemente convidadas a praticar um conjunto de ferramentas genéricas de pensamento e a refletir sobre os padrões de qualidade que regem o uso adequado dessas ferramentas em todas as disciplinas incluído no currículo escolar.

Talvez, entendemos melhor agora, pelo menos espero, por que a filosofia para crianças não se destina a transformar as crianças em filósofas (elas se tornam, mas esse não é o objetivo). Pelo contrário, essa disciplina visa empregar, de forma pragmática, a filosofia como ferramenta para dar sentido à experiência, mas acima de tudo para formar um pensamento de qualidade superior, ciente de seus mecanismos e dos pressupostos e padrões de qualidade que o governam nos esforços para compreender o mundo. Os romances de Lipmann não são livros de filosofia para crianças. São sobretudo livros que convidam as crianças a fazerem filosofia. Não se trata, portanto, de fazê-la por elas, mas de encorajá-las, por meio dos livros, a o fazerem por elas mesmas.

Na filosofia para crianças, há sempre dois níveis de questionamento: o tema de discussão e a maneira reflexiva segundo a qual tratamos o assunto. Essa maneira, referindo-se a atos de pensamento para pesquisa cuidadosa, é tão importante, ou mais importante do ponto de vista educacional, que o assunto tratado durante o debate. Ela ainda se torna central quando o assunto em discussão é o próprio pensamento, o que acontece com frequência na filosofia para crianças, porque o material usado ocupa um espaço enorme nessa dimensão da experiência humana. Nós somos seres pensantes e somos conscientes de que pensamos. Por que não também abordar esta importante dimensão de nossa experiência na escola? O tratamento do meio ambiente, a educação para a cidadania, a prevenção da violência, tudo isso é, obviamente, importante, mas na raiz dessas experiências encontra-se outra experiência ainda mais importante para mim: pensar! Sem a preocupação de realmente refletir sobre essa atividade, de compreendê-la e melhorá-la, outras atividades, sem perda de seu valor, por vezes caem na receita do aprendizado, o que será talvez esquecido tão rapidamente quanto foi aprendido. (3)

Enfatizo que não acredito que essas duas abordagens (com e para crianças) são incompatíveis, nem que uma é melhor que a outra. Em um caso, a filosofia para crianças concentra-se em filosofia como meio que permite às crianças aprender a pensar melhor em todas as disciplinas na escola. No outro caso, a filosofia com crianças concentra-se em filosofia como meta a ser alcançada pelas crianças: transformá-las em seres capazes de filosofar. Não é dito, no entanto, que, ao fazer filosofia com crianças, podemos alcançar as metas da filosofia para crianças. No entanto, ao fazer filosofia para crianças, é bem provável que alcançaremos a meta da primeira, mas esse objetivo é apenas um meio para outra coisa: aprender a pensar melhor em todas as disciplinas e seguir todas as demais consequências advindas da prática da filosofia em uma comunidade de pesquisa: educação cívica, prevenção da violência, etc. Mas, se for esse o caso, então surge a pergunta: por que não simplesmente fazer filosofia para crianças? Afinal, se ela engloba tudo que a primeira permite e vai além, por que limitar-se?

Para alguns, a resposta é relativamente simples: porque, ano após ano, as crianças começam a sentir náuseas de romances de Lipman e daqueles que seguiram nessa linha, e esperam trabalhar com um material diferente, mais colorido, mais consistente, ao que parece, com o que habitualmente se espera encontrar na escola ou em casa. Eles acrescentam que as próprias crianças desenvolvem certo tédio de usar os romances escritos por Lipman e seus colaboradores e desejam ter acesso a outras ferramentas que suscitem questionamentos (vídeos, jogos, atividades…).

Mas, ao fazê-lo, a menos que se tenha desenvolvido a arte de reconhecer os erros que afetam a fundamentação e os componentes do pensamento complexo ou de nível superior, a prática poderá facilmente ser reduzida a fazer filosofia com crianças, sem muita preocupação com a qualidade do pensamento que se desdobra em sala de aula. Para mim, isso teria o efeito de reduzir a riqueza que está em jogo quando se faz filosofia para crianças, usando os materiais desenvolvidos por Lipman. Eu não vejo nenhuma desvantagem em usar outras fontes que não aquelas escritas por Lipman, mas ainda é necessário que estas fontes sejam pensadas em função do objetivo a alcançar: fazer filosofia para aperfeiçoar o ato de pensar, de que dão inúmeros exemplos as questões relativas ao próprio ato de pensar, em toda sua riqueza e complexidade. Assim, o uso do Pequeno Príncipe, do filme Matrix, de fábulas ou literatura filosófica para crianças que atualmente existem em abundância nas livrarias (para citar alguns exemplos) deixa-me perplexo quanto à capacidade dessas ferramentas para a formação do pensamento das crianças. A razão: esses instrumentos têm certamente um valor literário, lúdico, histórico ou cinematográfico, mas qual a importância que atribuem ao pensamento, a seus padrões de qualidade, a sua utilização adequada no contexto de uma comunidade de pesquisa? As crianças precisam de modelos para se engajar ativamente na prática da filosofia em uma comunidade de pesquisa. Estou longe de estar convencido de que a chegada de todas essas ferramentas de ensino visam a fazer filosofia com crianças, concentrando-se neste modelagem. Acrescentaria ainda que estou longe de estar convencido de que essas ferramentas convidam as crianças a se interessarem por seu próprio pensamento, senão em raras ocasiões, muitas vezes inscritas em um questionamento existencial que apenas chama à tomada de consciência da estruturação do pensamento.

Para outros que estão reticentes em praticar a filosofia para crianças, tal resistência reside na postura que eles não querem ter ao fazer filosofia com crianças. Para eles, o professor tem um papel muito menor quando se trata de fazer filosofia com crianças. Além disso, consideram que o facilitador em filosofia para crianças é provavelmente uma pessoa que sabe o que é filosofia e, portanto, impõe sua visão às crianças. Querendo garantir que as crianças sejam os autores de suas filosofias, e não receptores de uma filosofia já preparada previamente, os proponentes da filosofia com crianças consideram que o facilitador na filosofia para crianças ocupa muito espaço. Pois presume-se (pelo menos, é o que imagino) que, ao fazer filosofia com crianças, consideramos que elas sabem tanto quanto o facilitador sobre o que está em questão na prática dessa atividade.

Tais pessoas estão parcialmente certas. De fato, na filosofia para crianças, o facilitador desempenha um papel muito importante. Ele é o intermediário entre as crianças e a cultura que estas herdaram. E a filosofia, mesmo que tenha tomado muitas formas em sua história, não é vista como atividade que se improvise sem uma intervenção clara por parte do professor. A filosofia não se resume a aprender a fazer perguntas; mais do que isso, não se reduz a transmitir respostas para as crianças.

Na filosofia para crianças, o facilitador coloca às crianças o desafio de pensar por si e para si mesmas, convidando-as a participar metodicamente atos tradicionalmente reconhecidos como aqueles produzidos por filósofos: argumentar, investigar, conceituar, problematizar, imaginar hipóteses… Seu papel é muito importante. Sabendo combinar fala e silêncio, auxiliando o desenvolvimento intelectual e moral das crianças, ele cria as condições para que o potencial reflexivo das crianças seja redescoberto. Mas significaria não compreender seu papel ver nessa pessoa um professor cuja função seria conduzir as crianças a entender que a filosofia se faz de uma única maneira e que as respostas às quais elas devem chegar já estão previstas por aquele que anima a discussão. Descrever dessa forma o papel do facilitador na filosofia para crianças revela uma má compreensão daquilo que está em jogo.

A animação em filosofia para crianças não é fácil e é por esta razão que é necessária uma longa formação e que, por vezes, a elaboração de uma aula que durará 45 minutos com as crianças pode levar muitas horas. Filosofia para crianças não se resume a falar com as crianças sobre temas ditos “filosóficos”. Ela exige uma visão global de uma estrutura de formação do pensamento que não se poderia reduzir a algumas vezes aqui e ali, em que as crianças são convidadas a refletir sobre o sentido de sua experiência e, como mágica, desenvolveriam então seu pensamento e julgamento. Como na aprendizagem de matemática ou de línguas, a aprendizagem de filosofia (como ato que visa ao desenvolvimento do pensamento de qualidade superior) exige um trabalho contínuo. Além disso, isso não significa que, apesar dos esforços exigidos por este trabalho, as crianças não gostem de filosofia para crianças. Pelo contrário, elas apreciam a estrutura trazida pela filosofia, elas dizem ter a impressão de aprender algo graças a essa maneira de fazer. Isso nem sempre é o caso quando a prática da filosofia com crianças não insiste na formação do pensamento.

Eu não saberia dizer o que os presentes na República Tcheca foram capazes de concluir durante a discussão que tivemos ao fim da conferência. De qualquer forma, meu objetivo não era convencer de que a distinção entre filosofia para crianças e filosofia com crianças deva ser mantida, embora eu ainda pense que há uma profunda diferença entre essas duas formas de fazer filosofia com crianças. A pesquisa que realizamos juntos me permitiu esclarecer meu pensamento e melhor articular as razões pelas quais acredito que é adequado manter tal distinção. Mas isso permanece como provisório e outros argumentos virão talvez em breve se somar aos meus, permitindo-me assim afinar meu julgamento, ou até mesmo mudar de opinião. Nada, como é frequentemente o caso, é absolutamente certo, uma vez por todas, neste vasto campo da filosofia educacional.

____________________

(1) Alguns acreditam que a expressão “fazer filosofia com crianças” é talvez muito forte e que é preferível falar de “discussão filosófica”, querendo assim dar a entender que o ato de filosofar com crianças estará presente somente após uma longa prática de discussão que ainda não é filosófica. Eu voltarei a esse ponto adiante neste artigo, a fim de enfatizar minha discordância dessa distinção.

(2) Como apontou-me um colega, o debate filosófico em filosofia para crianças não é uma discussão filosófica, mas uma discussão filosófica simplesmente, assim como não é uma atividade matemática fazer matemática na escola primária, mas uma realidade: as crianças, no primário, fazem matemática assim como fazem filosofia. Não precisamos ser um profissional de matemática (ou de música, ou de teatro, ou…) para dizer que fazemos matemática (ou música, ou teatro, ou…), assim como não precisamos ser um profissional de filosofia para dizer que fazemos filosofia. A menos que se acredite que filosofia é muito mais difícil do que matemática ou qualquer outro conteúdo ensinado na escola e que se leve um longo tempo antes de poder afirmar que a estamos praticando. Esse não é meu ponto de vista sobre o assunto.

(3) Filosofia para crianças é, ou será em breve, uma vez que sua história está sendo construída, uma subdisciplina da filosofia, cujo objetivo é reformular o ensino da filosofia para que ele seja útil e agradável às crianças. Não sei se a filosofia com crianças se tornará uma subdisciplina de uma disciplina ensinada na universidade. Mas, considerando o número de educadores e autores interessados nesta abordagem, não ficaria surpreso de que ela faça um dia parte da Faculdade de Ciências da Educação ou da Faculdade de Letras. Para mim, o lugar da filosofia para crianças está em uma Faculdade de Filosofia, porque, para ser um professor que ensina filosofia como ferramenta para a formação do pensamento, é importante que este professor seja altamente qualificado em filosofia. Eu acrescentaria que ele deva ser bem formado em lógica, disciplina essencial para a formação do pensamento, e que ele conheça profundamente as articulações da história da filosofia do ponto de vista epistemológico, ético, estético… Finalmente, acredito que é hora de faculdades ou departamentos de filosofia das universidades se dedicarem não só à história da filosofia, mas também enfatizarem o ensino desta disciplina. Isso porque, frequentemente, o ensino da filosofia é marginalizado ou colocado em segundo plano nas Faculdades de Filosofia, deixando à ciência da educação a responsabilidade do ensino dessa didática. Mas estou longe de acreditar que essa educação signifique a preservação de pedagogos ou escritores, especialmente quando se trata de usar filosofia (em sua totalidade) para formação do pensamento. Uma formação filosófica, indo até o doutorado, parece-me claramente mais apropriada para esse tipo de ensino e as Faculdades de Filosofia deveriam incluir essa dimensão em seus programas. Este é o caso da Faculdade de Filosofia da Universidade Laval.

Tradução de Maria Taboza

Laisser un commentaire

Entrer les renseignements ci-dessous ou cliquer sur une icône pour ouvrir une session :

Logo WordPress.com

Vous commentez à l’aide de votre compte WordPress.com. Déconnexion /  Changer )

Photo Facebook

Vous commentez à l’aide de votre compte Facebook. Déconnexion /  Changer )

Connexion à %s

%d blogueueurs aiment cette page :